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"Uma criança perguntou, O que é a erva?, estendendo-me as mãos cheias dela; como podia eu responder-lhe? Não sei mais do que ela."



Charleston

O jazz
zurze, risca losangos, gumes,
planos, ângulos, sonoros motes
arrancados de dentro das pandeiretas, cornetas, timball's serrotes
tocados por Hotentotes saltitantes
que rasgam o espaço côncavo
com os fortes botes
dos sonoros motes volantes
do jazz-band d'Ho-ten-to-tes...

Andam nor ar jogos malabares de fogos de Bengala
num batuque d'Hotentotes... d'Ho-ten-to-tes
sal-ti-tan-tes no redondel duma sanzala.
E ela surge, toda nua,
sob a poalha luminosa e crua
d'um foco d'arco voltaico,
que, incendiando o mosaico
de sua pele tatuada a cores,
lhe dá aspecto bizarro
d'um bronze colorido,
d'um manipanso Hotentote.

O seu corpo, asa que se desgarra,
esmurra, esbarra,
em movimentos ágeis,
eléctricos,
com os sons do jazz,
pensamentos alados de Farrabraz
que esvoaçam, veloces, veloces no espaço.

As pernas são apenas
dois movimentos instáveis,
trémulos, nos espaços,
em malabárico jogo.
E os braços,
duas antenas
vibráteis, duas
asas de fogo
e cor
n'uma pluma de labareda.
Os olhos são duas puas,
acerados gumes,
agudos ângulos,
orgias de fogos e lumes,
facas de prestigiador
sonâmbulo.

Seu corpo, cansado e bambo
- tomba
sobre almofadas de Damasco, Raz
e panos de Tresibonda.
E o jazz
continua, já lassa a pel' dos bombos,
bambas as cordas dos banjos.
Entanto o jazzzz zurze, risca
o espaço também já lasso e bambo.

António de Navarro (Lisboa, 1927.)

posted by FamiliarFeeling @ 13:15,

1 Comentários:

At 7:06 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Bem escolhido.
Só te falta nomear a banda sonora de acompanhamento.

 

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